quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Rosa, vegetal de sangue

Rosa, vegetal de sangue (uma tragédia carioca)
Autor: Carlos Heitor Cony

Característica da obra: Neo-realista (Otto Maria Carpeaux)

(Material de apoio para o Vestibular da UFC)

SOBRE O AUTOR:

Carlos Heitor Cony nasceu a 14 de março de 1926. Embora formado em Filosofia, passou a trabalhar na Imprensa (Suplemento Dominical do Jornal do Brasil e Revista Senhor) e, a partir de 1960, é admitido no Jornal Correio de Manhã, inicialmente como redator, passando, mais tarde, a editor. É neste Jornal que estréia como cronista, com a coluna Da Arte de Falar Mal. Viajou por diversos países e dirigiu as Revistas Ele e Ela e Desfile (Grupo da Revista Manchete). Produziu contos, romances, crônica e biografia.Escreveu, em 1955, o Romance O Ventre, publicado em 1958 e ganhou, por duas vezes, o Prêmio Manuel Antônio de Almeida, em 1957 e 1958, com os Romances A verdade de Cada Dia e Tijolo de Segurança.

Obras seguintes:

Informação ao Crucificado; Matéria de Memória; Antes, o verão; Posto seis; Balé Branco; Chaplin (biografia); Pessach: a Travessia (livro que faz uma acusação direta ao partido comunista – ele foi preso seis vezes durante a ditadura); Pilatos (é o livro do homem que lava as mãos); Quase memória; O piano e a orquestra (escrito durante uma viagem de navio) Sobre todas as coisas;

Livros para a Ediouro (Edijovem): Quinze anos; Luciana Saudade; Uma Vitória Legal; Uma História de Amor; Um presente para Claudia; Marina, Marina; O amor e as Pedras; O Irmão que tu me deste; e Rosa, Vegetal de Sangue.

Fez adaptação de toda a obra de Júlio Verne, dos Irmãos Karamazov (edição de três volumes adaptada para 80 páginas). Fez a sinopse de três novelas para a TV: Dona Beija, Kananga do Japão e A Marquesa de Santos.

ENREDO:

Rosa Maria, moça de apenas 20 anos, trabalha como recepcionista do Jornal Diário da Manhã e é amante do jornalista Lobianco, 50 anos, comentarista das notícias internacionais do mesmo órgão. Embora magrinha e com ares de suburbana, Rosa mostra-se atraente pelo seu jeito “classudo” de andar (como uma enguia), pela naturalidade com que acende e fuma o seu cigarro e pela pintura carregada de seus olhos amarelos e verdes. Antes de completar 20 anos, Rosa conhece Lobianco, que surge como a solução para os seus problemas. O pai, Tomás Antônio da Silva, antigo porteiro do Tribunal de Justiça, aposentara-se antes do tempo por ter sofrido um enfarte e, com o salário completamente defasado, tira os dois filhos do colégio (Rosa e o irmão Almir) e é obrigado a aceitar que Rosa trabalhe como recepcionista para ajudar nas despesas da casa, situada no bairro Quintino Bocayuva (Rio de Janeiro), que já se encontra praticamente inabitável. No jornal, Rosa conhece Lobianco e torna-se sua amante, mesmo sabendo que ele é casado e tem dois filhos e uma filha da sua idade. Como Lobianco se dispõe a ajudar a família dela, o pai e a mãe logo aceitam a relação clandestina e se mudam para o Bairro Rio Comprido, onde o “protetor” alugou um apartamento para que eles morassem. O jornalista evita contato com a família da moça, mas, na noite em que o pai dela sofre outro enfarte, após relutar, assume os sentimentos por Rosa e resolve ir ao apartamento deles e solidarizar-se. Ele decide alugar um quarto e sala para Rosa, no bairro de Botafogo, (seu caminho para casa) e pede aumento ao diretor do jornal, onde é tratado com certo prestígio pela consideração que o dono tinha ao seu pai (um poderoso distribuidor de jornal, morto pelo amante da amante). Acertado o aumento, ele exige que Rosa pela demissão do cargo de recepcionista do 3o. andar e a moça passa a viver exclusivamente a sua disposição. De segunda a sexta-feira, quando sai do jornal, ele passa na casa dela, onde permanece durante muitas horas fazendo sexo e descansando. No sábado e no domingo, ele se dedica à família e Rosa aproveita para visitar os pais.

Com o passar do tempo, Rosa se sente vazia e velha para a sua idade e começa a se incomodar com a solidão dos finais de semana, se enfastiando até com as visitas à casa dos pais. Numa noite, ela decide descer para pedir uma pizza e, quando menos espera, recebe-a em seu apartamento, das mãos de um rapaz que a viu e se encantou. André se identifica e revela sua atração, mas, ao saber da situação da moça, vai embora e pede que ela o esqueça, mas deixa em Rosa um fascínio desmedido que a faz procurá-lo várias vezes em diversos lugares da cidade. Sem encontrar André e sentindo-se cada vez mais incomodada com o fato de ser objeto de posse de Lobianco (Você é minha), Rosa aceita se encontrar com o Diretor-Superintendente do Jornal em que Lobianco trabalha, mas não aceita deitar-se com ele, antes exige ganhar um relógio Beaume-Mercier e, após seduzi-lo com seu jeito de andar e fumar, ela sai sem deixá-lo explicar o que queria falar com ela.

Rosa vai registrando tudo em seu diário: o incômodo com o fato de Lobianco pagar o colégio de Almir, seu irmão, sua solidão, seu amor frágil. Chega a se sentir uma prostituta ao concluir que só está com ele para ajudar a sua família. Sente-se uma Rosa vegetal e outra vez desce para a lanchonete que fica no térreo de seu prédio. Conhece Luís e Ricardo, dois jovens, e se interessa especialmente pelo primeiro, que lhe parece mais distinto. Sai algumas vezes para passear de carro com eles, registra no diário e pensa em contar tudo a Lobianco, mas sempre adia porque ele chega cansado. Sem entender a própria atitude, Rosa dá a chave de seu apartamento a Luis e, inesperadamente, a narrativa já nos revela que ela está morta sobre a cama, com os lençóis revirados. O enterro ocorre sem que Lobianco a veja (ele foge quando sabe a notícia e passa a noite sozinho num motel de estrada).

Nesse ínterim, Lobianco vai ao apartamento dos pais da moça, que não parecem estar sofrendo com a tragédia. Ele se refugia lá durante alguns dias; Lemos, o investigador de polícia que cuida do caso, o encontra, interroga-o e revela que não suspeita dele. Diz que todos os jornais já noticiaram o caso, inclusive citando o nome dele e dos outros amantes (o jornal diz que ela costumava receber rapazes). O investigador conta, também, que até fizeram entrevista com a mulher e a filha dele (de Lobianco). Antes disso, o mesmo investigador havia procurado o Diretor do Jornal, Dr. Alberto, e ficou sabendo que ele procurou Rosa porque um Ministro, a quem o jornal devia favores, queria encontrá-la. Depois, o leitor fica sabendo que, não tendo tido oportunidade de falar a Rosa os reais motivos do encontro com ela no apartamento do Largo do Machado, o Dr. Alberto a chantageou, dizendo que se ela não fosse encontrar o ministro, demitiria Lobianco. Rosa vai encontrar o velho ministro e fica enojada quando ele começa a querer alguns rituais; agride-o com a bolsa e decide enfrentar o Dr. Alberto: se ele demitir Lobianco, contará tudo à imprensa.

Lobianco, após o encontro com o delegado, vai ao apartamento onde Rosa morava e, estranhamente, até aquele momento não sentira falta da moça (só alívio), sente desejo por ela. Como prometera ao investigador procurar os dois rapazes com que Rosa estava supostamente envolvida, desce à lanchonete que ela freqüentava e é interpelado por um jovem, Luís (que parece visivelmente sentido) e começam a conversar. Fica-se, logo depois, sabendo que Luís e Ricardo eram amantes e, por perceber que o parceiro estava interessado em Rosa, Ricardo copiou a chave do apartamento dela, entrou lá durante a noite e a matou, sufocando-a; quando ela ouviu os passos entrando no apartamento, pensou que fosse Lobianco, depois, Luís que a acariciava no pescoço. Pede que não a machuque (a carícia a está sufocando) e diz que precisa viver, mas a mão enluvada, que ela pensa ser de Luís, não tem piedade.

SINOPSE / COMENTÁRIOS

Rosa, Vegetal de Sangue (uma tragédia carioca) é um romance contemporâneo, predominantemente narrado em 3a. pessoa (narrador observador onisciente). O discurso do narrador é centrado no passado (a ação não é contemporânea do discurso). O estilo é fluente, os personagens utilizam uma linguagem simples, por vezes coloquial e o discurso flui como no ritmo de uma crônica longa (ler a nota do autor, transcrita no final desse trabalho), que não obedece a uma seqüência cronológica. Segue a linha de livros paradidáticos (Faz parte da Coleção Edijovem da Ediouro. Conheçamos a sinopse:

CAPÍTULO 1 - Rosa Maria está em sua mesa de recepcionista no terceiro andar do prédio em que funciona o jornal Diário da Manhã. Espera ansiosamente a hora de sair para desligar o ar condicionado de sua sala (tarefa que ela detesta). Passava todo o expediente olhando as horas no relógio que ganhara do amante Lobianco no seu aniversário de 20 anos. Ela lembra que, na semana anterior, o diretor-superintendente do jornal, o todo-poderoso Dr. Alberto, enquanto esperava o elavador, aproximou-se dela para perguntar se aquele relógio era da marca Beaume-Mercier, mas logo viu que, embora bonito, era um relógio simples, sem marca. Lembra também que, após o expediente, foi ao cinema com o amante, depois pegou o ônibus para o Rio Comprido, bairro onde morava com os pais e o irmão. Desde então passou a sonhar em ter o relógio mencionado pelo diretor do jornal.

CAPÍTULO 2 - O narrador nos apresenta Lobianco que, às vésperas de completar 50 anos, recorda o pai – Antônio Lobianco – de quem herdou o nome, um italiano de Nápoles que chegou ao Brasil em 1922, e iniciou a vida profissional como jornaleiro, passando, depois, a dono de bancas espalhadas por vários pontos do Rio de Janeiro. Em seguida, o velho tornou-se capataz e recebia “um grande volume de jornais e revistas para distribuir entre as bancas, as próprias e as associadas” (p.11). Ganhou dinheiro, formou os filhos e morreu quando, na volta de uma viagem de carnaval, encontrou a amante (que já tinha um filho seu) na cama, abraçada a um mulato forte. Após ser agredido, o mulato navalhou Antônio (pai de Lobianco), ferindo-o mortalmente. Além dessas recordações, o narrador mostra como Lobianco, embora formado em direito, entra para a área de jornalismo e como se sente em relação à vida profissional, já que deve ao nome do pai a abertura das portas e não ao próprio talento.

CAPITULO 3 – O narrador descreve o caráter dócil de Lobianco e como ele conquista seu espaço como redator do jornal, embora jamais desvinculem seu nome do de seu pai. Comenta sobre o temperamento plácido dele que, contrariando o padrão comportamental dos colegas, não colecionava amantes. Menciona o estágio de Rosa Maria na recepção do jornal e o seu primeiro encontro com Lobianco. Logo já se vê Rosa como sua amante, pedindo-lhe um Rádio-relógio digital vermelho, sua cor predileta.

CAPÍTULO 4 – O narrador refere-se ao bairro (Quintino Bacoyuva), onde Rosa Maria morava quando conheceu Lobianco e conta a história do pai dela – Tomás Antônio da Silva – antigo porteiro do Tribunal da Justiça que, tendo sofrido um enfarte aos 45 anos, aposentou-se, antes do tempo, por invalidez. O narrador conta como Rosa arranjou o emprego e como comunica aos pais que está sendo amante de um homem casado. O pai reconhece que a filha está se vendendo ao se entregar a um homem casado, com a sua própria idade, mas a mãe argumenta que “Rico não fica velho... Só pobre envelhece” (p21). Dois meses depois, Seu Tomás e Dona Ana vão ver o apartamento que Lobianco alugou para toda a família em Rio Comprido, para onde logo se mudaram, felizes pelo fato de o amante da filha também custear o colégio de Almir, o filho de 11 anos. Em seguida, já no apartamento, Rosa mostra o Rádio-Relógio vermelho-sangue que ganhou.

CAPÍTULO 5 – Aparece Rosa no trabalho, reclamando do calor (o ar-conicionado não funciona bem) e Lobianco pedindo que ela pinte menos os olhos. Glorinha, a filha de Lobianco vai ao jornal pedir dinheiro ao pai e ele se sente mal em ver, juntas no mesmo ambiente, a amante e a filha, ambas com a mesma idade.

CAPÍTULO 6 – Lobianco, ainda incomodado com o encontro da filha e da amante, se recusa a sair com Rosa. Vai deixá-la em casa e se aborrece porque sabe que o pai dela sofreu outro enfarte. Sente-se explorado, embora Rosa não faça exigências. Ele a deixa na calçada e promete ligar para saber notícias. Resolve voltar porque analisa que ama Rosa e quer assumi-la inteiramente. Sobe ao apartamento dos pais dela, o que a surpreende, e conhece a família.

CAPÍTULO 7 – Lobianco resolve pedir um aumento de 50% ao diretor do jornal, exige que Rosa peça demissão, aluga um apartamento (quarto-e-sala) para ela em Botafogo. A moça passa a viver exclusivamente para ele.

CAPÍTULO 7 (DO DIÁRIO DE ROSA MARIA) - Já se inicia com textos do diário de Rosa Maria, que, desde o momento em que passa a viver no quarto-e-sala em Botafogo, instigada pela solidão, começa a escrever um diário onde revela fatos do seu dia-a-dia e as inquietações acerca de sua vida. Lobianco passa boa parte da tarde (após as 17 horas) com ela, descansando ou fazendo sexo incansavelmente, mas ela se sente só, sem vida. Confessa que está suscetível e chega à conclusão de que quer mudar de vida, pois não o ama; aceita-o porque depende finaceiramente dele.

CAPÍTULO 8 - O narrador retoma o discurso e já narra o momento em que o comissário de polícia encontra o corpo de Rosa desfalecido sobre a cama.

CAPÍTULO 9 - Tem-se a narrativa da rotina de Lobianco no jornal (Sem saber ainda do crime);

CAPÍTULO 10 - Aparecem os comentários do comissário Lemos sobre o diário de Rosa e a lista de suspeitos, já manifestando, inclusive, o prazer de interrogar o tão “certinho” todo-poderoso Dr. Alberto;

CAPÍTULO 11 – O narrador volta a Lobianco, em sua fuga para não enfrentar a situação (refugia-se num motel de estrada) e sua visita à casa dos pais de Rosa;

CAPÍTULO 12 - Aparece o interrogatório do comissário com o Dr. Alberto e a revelação de que ele não queria ter caso com Rosa, mas apenas “arranjá-la” para um ministro que lhe havia exigido.

CAPÍTULO 13 - A mãe de Rosa retorna do cemitério e encontra Lobianco em sua casa, oferece-lhe o quarto de Almir, onde ele descansa alguns dias, até a chegada do comissário para uma conversa elucidativa. Após ser chamado de assassino pelo pai da morta, promete continuar a pagar o colégio de Almir.

CAPÍTULO 14 - Lobianco sobe ao apartamento onde Rosa morava e “Na carne dele, havia um pouco de desejo, desejo por uma morta” (p.90). Após relembrá-la, sentindo-se, entretanto, aliviado, desce à lanchonete e encontra Luís, o amigo de Rosa.

CAPÍTULO 15 Luís conta que era amante de Ricardo, que brigou com ele por causa de Rosa e que, numa noite, enciumado, Ricardo roubara sua chave e copiara com a intenção de ir à casa de Rosa para matá-la.

CAPÍTULO 16 - Inicia com comentários do narrador sobre a última página do diário de Rosa, logo passamos a saber, ainda pelo discurso dele, como Rosa foi ao jornal encontrar o Dr. Alberto, como foi chantageada e o seu encontro com o ministro, um velho maníaco que ela repudia. e a sua decisão de mudar de vida. Logo é narrado o momento em que o assassino entra em seu apartamento e mata-a, sufocada com um lenço.

ESPAÇO – Rio de Janeiro do século XX

Bairros mencionados:

Quintino Bocayuva – onde Rosa mora antes de conhecer Lobianco

Rio Comprido – onde Rosa passa a morar quando Lobianco aluga um apartamento para sua família.

Botafogo – onde Rosa passa a viver para seu amante e a se sentir um “rosa-vegetal”, sem vida. É lá que ela é assassinada.

Bonsucesso – Bairro apenas citado, onde o pai de Rosa é internado durante um mês quando tem o enfarte (Hospital do IPASE).

Leme- onde fica o apartamento do Ministro que queria ser amante de Rosa

Cosme Velho – onde fica o quarto-e-sala onde o Dr. Alberto se encontra com Rosa.

O centro do Rio de Janeiro.

PERSONAGENS:

Rosa Maria – 20 anos - Aparentemente frágil, mas muito decidida. Percebe que está perdendo sua juventude dedicando-se a um homem que a assume, mas que não lhe pode dedicar tempo. Apaixona-se platonicamente por André, um rapaz que só viu uma vez; mostra interesse por Luís, um rapaz jovem que lhe dá atenção quando Lobianco a deixa só. Mostra-se sedutora e provocante com o Dr. Alberto e se recusa a ser amante do Ministro. Descobre que não ama Lobianco, embora goste de fazer sexo com ele e, antes de ser assassinada por Ricardo, amante enciumado de Luís, confessa no diário que quer mudar de vida. Morre aos 22 anos.

Lobianco – Redator de jornal, 50 anos, casado, pai de dois rapazes e uma moça. Tem bom temperamento, mas se sente injustiçado profissionalmente no jornal e tem uma certa revolta por ter de sustentar duas famílias (a dele e a de Rosa). Diz-se apaixonado, mas sente alívio, estranhamente, quando Rosa é assassinada. Tem 52 anos no final da história.

Dr. Alberto – Diretor-superintendente do Jornal Diário da Manhã.

Tomás – Pai de Rosa

Ana – Mãe de Rosa

Almir – Irmão de Rosa.

Elisa – Esposa de Lobianco

Glorinha – Filha de Lobianco

Lemos – Investigador de polícia

André – Rapaz jovem, aparece apenas uma vez, quando vai levar a pizza que Rosa pediu no restaurante.

Luís – Rapaz jovem, que Rosa conhece na lanchonete abaixo do seu prédio. É amante de Ricardo, mas Rosa não chega a saber.

Ricardo – Amante de Luís, assassina Rosa com ciúme. É filho de ministro.

Ministro – Amigo de Dr. Alberto, com quem tem um jogo de interesses. Deseja ardentemente ser amante de Rosa, mas não consegue.



NOTA FINAL

A história de Rosa Maria é inspirada num episódio da crônica policial do Rio de Janeiro. Em 1973, uma moça foi vítima de violência. Tanto os jornais como a polícia trataram o caso dela como de uma leviana, quase uma prostituta. E a moça não era nada disso. Pelo contrário: em certo sentido, era pessoa bastante honesta, que vivia com um homem casado e nunca o traía. E, o mais estranho no seu caso, foi o fato de ter repelido, também com violência, a proposta de um grande personagem da vida pública, que estava disposto a torná-la sua amante oficial, com mais regalias e status. Ela recusou para ser fiel a si mesma. O fato não foi revelado na ocasião – nem nunca – mas nos bastidores foi muito comentado.

Por tudo isso, pelos tipos que passam pelo romance, pelo ambiente e até mesmo pelas tramas secundárias, Rosa, Vegetal de Sangue é uma tragédia carioca dos dias que correm.

C. H. C.

Transcrita da obra Rosa, Vegetal de Sangue. Rio de Janeiro, Ediouro: S/D (última página)

Leitura do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum

Dois Irmãos: incesto, rejeição e rivalidade

Dois irmãos, romance de Milton Hatoum, tematiza o incesto, a rivalidade, a revolta, o ciúme e as tantas nuanças que desajustam a vida de uma família de imigrantes libaneses residente em Manaus. O seu diálogo com o presente e o passado fez-nos resgatar histórias bíblicas, histórias clássicas e contemporâneas para mostrar que seus temas são tão antigos, como atuais, eternos como a própria impossibilidade de harmonia terrena, o que também se evidencia em Relato de um Certo Oriente, obra também de Hatoum, dada à lume em 1990. Tais reflexões, dentre outras, constituem o alicerce desse ensaio da professora Aíla Sampaio, do Curso de Letras da Unifor.

O enredo de Dois Irmãos, embora cíclico, dá-nos a exata noção de uma temporalidade cronológica. A narrativa é construída tendo como ponto de partida a vida de Halim, um mascate do Líbano, que se apaixona por Zana, filha de outro libanês, dono de um restaurante. Os gazéis do amigo Abbas são definitivos no processo da conquista e passam a funcionar como uma senha para os momentos de amor fogoso, que não eram raros, nem reservados: ´Vi Halim e Zana de pernas para o ar, entregues a lambidas e beijos danados, cenas que eu via quando tinha dez, onze anos e que me divertiam e me assustavam, porque Halim soltava urros e gaitadas, e ela, Zana, com aquela cara de santa no café da manhã, era uma diaba na cama, um vulcão erotizado até o dedo mindinho´ (p.90). Da união, nascem os gêmeos Yakub e Omar (o caçula, por ter saído da barriga por último) e Rânia. A história dessas vidas de papel é delineada por Nael, o filho da empregada-índia Domingas, órfã e ex-interna de um colégio de freiras. Com a morte de Halim, Zana, Domingas, Yaqub e Nael, em busca da identidade paterna, contam o que viram e ouviram. Nael como agregado da casa e confidente de Halim.

Depois que os gêmeos nascem, Halim, que não queria ter filhos para poder desfrutar integralmente o amor da esposa, vê-se colocado de lado. Decide mandar os dois (filhos) para o Líbano, mas Zana impede que Omar vá, alegando a fragilidade da saúde dele; Yaqub viaja com alguns amigos do pai, aos 13 anos (um ano antes da Segunda Guerra (p.15)). Passa cinco anos amargando a preterição da mãe, vivendo privações, até que a família manda buscá-lo. De volta à casa dos pais, não consegue perdoar a mãe pela escolha, nem se mostra capaz de conviver com o excesso de proteção dela para com o irmão. Acirra-se a rivalidade entre os dois, reacendendo a cicatriz feita por Omar no rosto de Yaqub quando o pegou, ainda na infância, se beijando com Lívia, moça por quem também era apaixonado.

Zana, em seu amor desgovernado, sempre protegendo o caçula, não encontra nenhuma nora à sua altura, interrompe as paixões dele pela Mulher Prateada e pela Pau-Mulato, as única mulheres por quem ele realmente se interessou, alimentando cada vez mais a sua dependência emocional. Omar não se adapta a nenhum colégio, não se submete a nenhum emprego, não dá continuidade a nenhum projeto. Yaqub, sentindo-se sempre preterido, vai embora para São Paulo, onde se forma engenheiro e se coloca profissionalmente; manda buscar Lívia e se casa com ela, sem que a família saiba. Rânia assume os negócios da família e, por ter não tido a aceitação de Zana para um pretendente seu, decide não querer mais ninguém. Alimenta uma relação entre afetuosa e sensual com os dois irmãos, aparentemente cópias perfeitas do seu parceiro ideal: ´Omar reaparecia, de carne e osso, sorrindo cinicamente para a irmã. Sorria, fazia-lhe cócegas nos quadris, nas nádegas, uma das mãos tateava-lhe o vão das pernas. Rânia suava, se eriçava e se afastava do irmão, chispando para o quarto (p.94) / ... / Como ela se tornava sensual na presença de um irmão! Com esse ou com o outro formava um par promissor... Rânia, não a mãe, ganhou os melhores presentes dele (Yaqub)... Ainda chovia muito quando a vi subir as escadas, de mãos dadas com Yaqub; entraram no quarto dela, alguém fechou a porta e nesse momento minha imaginação correu solta´ (p.117).

Vários fatos vão sendo encadeados. Em função dos problemas com Omar e do excesso de amor, Zana se descuida de Halim e faz crescerem os ciúmes dele. Domingas, a empregada que não teve escolhas na vida, cria o filho, neto dos patrões (filho, possivelmente, de uma noite em que Omar abusa sexualmente dela), em um quartinho nos fundos da casa. Após a morte de Halim, Yaqub volta a Manaus para fazer o projeto de um hotel; Omar se revolta, acusa-o de ter roubado sua ideia, agride-o fisicamente e acaba preso. Após sair da prisão, sua casa já foi vendida, sua mãe está morta e ele, envelhecido, desaparece sem rumo. Nael fica morando no mesmo quartinho, então independente da casa, herança a ele destinada por Yaqub. Rânia compra uma casa e nela passa a viver sozinha após a morte da mãe. Como o tempo em que se passa a história termina nos anos 60, o narrador não deixa de inserir fatos que retratam a ditadura militar: as tropas do exército pelas ruas, a censura dos meios de comunicação e o assassinato, em janeiro de 1964, do professor de francês, o poeta Laval, cujo passado estava ligado ao Partido Comunista.

As atitudes pouco comuns numa relação familiar podem ser assim relacionadas: o amor excessivo de Zana por Omar a faz competir com suas pretensas noras: ´Dessa vez ela não quis disfarçar: encarou com um sorriso dócil e um olhar de desprezo a mulher que jamais seria a esposa de seu filho, a rival derrotada de antemão´ (p.99); a solidão de Rânia, que passa as noites trancadas em seu quarto, só permite que ela ´desabroche´ na presença dos irmãos: ´Depois do jantar entocava-se no quarto, onde a noite a esperava. Vá saber o que acontecia durante esse encontro misterioso. É provável que nem a noite percebesse seus gestos e pensamentos´ (p.96); os ciúmes de Halim, obsediado pelo sexo de Zana e impedido pelos problemas dos filhos, sobretudo do caçula, levam-no a culpar Omar pelo descaso da esposa e culminam na rejeição ao filho: ´Halim torcia para que uma dessa mulheres levasse o filho para bem longe de casa ... Mas ele intuía que Zana era mais forte, mais audaciosa, mais poderosa´( p.100); a ambição e a revolta de Yaqub, que vence profissionalmente e se casa com a mulher que ama, o faz agir com frieza em relação ao irmão e, após a morte da mãe, realizar sua vingança. Rânia não o perdoa, tenta resgatar Omar, mas ele foge de todos.

Resta Nael, cuja paternidade é revelada pela mãe, antes de ela morrer: Omar, justamente aquele em quem nada admirava. A revelação faz com que ele não mais se interesse pelo pai. Não espera ajuda de Yaqub, passa a trabalhar como professor no Colégio em que estudou e desiste de Rânia, a tia com quem viveu uma única noite de amor.

A história da família de Dois Irmãos intertextualiza, inicialmente, a de duas famílias bíblicas: a de Adão e Eva e a de Isaac e Rebeca, ambas extraídas do Gênesis, livro primeiro da Bíblia Sagrada. A primeira história de rivalidade entre irmãos se dá com Caim e Abel. Caim, o irmão mais velho, é lavrador; Abel é pastor de ovelhas. O despeito entre um e outro se dá quando Deus não aceita a oferta de Caim, que Lhe oferece produtos de sua lavoura e aceita a de Abel que lhe oferece uma ovelhinha. Não adianta dizer-lhe que o sacrifício deve ser feito com a morte de um animal. Caim não confiava em Deus como o irmão, e não acreditou em suas palavras: ´Assim como as folhas de figo não puderam cobrir o pecado de Adão e Eva, um sacrifício feito com plantas e legumes, sem sangue, também não podia perdoar os pecados´. Caim afastou-se de Deus e acabou cometendo o primeiro assassinato: tirou a vida do próprio irmão e tornou-se um amaldiçoado.

Já Esaú e Jacó, filhos de Isaac e Rebeca nascem a pedido do pai que clama a Deus a dádiva dos filhos, já que a esposa era estéril. Ainda na barriga, as duas crianças brigam e Rebeca tem a revelação, pela boca de Javé, de que eles representam a briga entre duas nações que se separam em suas entranhas. Um povo vencerá o outro, e o mais velho servirá ao mais novo (p.38). Esaú se tornou um caçador e Jacó preferia a tranqüilidade, vivendo sob tendas. Isaac se identificava com Esaú; Rebeca preferia Jacó. Jacó ambicionava ser o primogênito, direito que dava a Esaú, como o primeiro a sair da barriga da mãe, ter a autoridade patriarcal sobre os irmãos. Esaú, voltando do campo esgotado de fome, só recebe a comida de Jacó quando lhe concede o direito à primogenitura.

Zana parece a recriação de Rebeca que, ao privilegiar o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, faze-os inimigos irreconciliáveis. Quando Zana escolhe mandar Yaqub para o Líbano e fica com Omar, só acentua a rivalidade entre os dois.

Já o romance Esaú e Jacó, Machado de Assis deixa clara, a partir do título, a intertextualidade com o Gênesis, quando já carrega no próprio título o nome dos gêmeos bíblicos. Pedro e Paulo, filhos tão desejados como os de Isaac e Rebeca, são também gêmeos, têm personalidades diferentes e desenvolvem, desde cedo, uma rivalidade sem explicação. Quando Natividade vai à ´Cabocla´ para saber sobre o destino deles, ela pergunta se eles brigaram em seu ventre. A mãe então lembra que não teve uma gestação sossegada, tinha movimentos extraordinários, repetidos, e dores, e insônias... (p.19). Segundo o narrador, o Conselheiro Aires, os dois irmãos representavam os dois lados da verdade. Paulo é extremamente impulsivo, age sempre de forma arrebatada; já Pedro é dissimulado e tem uma mente conservadora. Quando se tornam adultos, assumem posições políticas diferentes: Paulo é republicano e Pedro monarquista. A mãe e o pai sofrem com a constante competição, mas não conseguem aplacar o desejo que um tem de contrariar o outro. Os dois se apaixonam pela mesma mulher, uma moça retraída, simples, de nome Flora. Ela, não conseguindo encontrar em um só deles a completude do seu desejo, deixa entrever que um completaria o outro. Na impossibilidade de ter os dois, ela morre. Eles juram reconciliação junto ao túmulo dela, mas, ao elegerem-se deputados, continuam a brigar na tribuna. Novo juramento de paz é feito no leito de morte da mãe.

Zana igualmente sonhou morrer vendo os filhos, Yaqub e Omar, reconciliados; sua última tentativa de uni-los no projeto do Hotel a ser construído em Manaus, resultou no estopim da intriga: Yaqub exclui o irmão, e este, revoltado, o agride fisicamente. Após a morte da mãe, Yaqub vinga-se das agressões que recebeu, mandando-o para a prisão. Na verdade, vinga-se de toda uma vida de preterição por parte da mãe. Halim sentia a possibilidade de um desfecho trágico e advertia a mulher: Dá um pouco de atenção ao outro filho. Faz anos que não vemos o Yaqub (113). Zana morreu aflita, perguntado: meus filhos já fizeram as pazes? (p.12). Como Esaú e Jacó, os dois também nasceram perdidos (P.237). Como Caim e Abel, eles ficaram vulneráveis ao desejo de que um não vivesse; numa carta à mãe, Yaqub escreve Oxalá seja resolvido com civilidade; se houver violência, será uma cena bíblica (p.228). Não há assassinato, é certo, mas há violência e plano sórdido de vingança. Há destruição de vidas pelo ódio.

A preferência por um filho em detrimento de outro também está presente na obra O ponto Cego, de Lya Luft, em que o Pai prefere a filha ao filho. Primeiramente ele amou a filha mais velha que morreu; após a perda, transferiu sua preferência para a outra filha, deixando definitivamente o Menino de lado: ´E ele amou a substituta com um estranho amor que excluía até mesmo minha mãe (p.29)... Eu sou o que deixaram sob o tapete, o que à noite se esgueira pelos corredores chorando´. (p.30). Mesmo tendo o amor compensador da mãe, ele finda abandonado, já que a mãe escolhe ir embora para viver a própria vida. Em A Sentinela, também de Luft, Elza, a mãe, não esconde a preferência pela filha Lilith, que acaba morrendo (suicídio?). Nem a morte da filha predileta a faz se aproximar de Nora, ao contrário, ela passa a quer vê-la longe, talvez a se perguntar: Por que ele não morreu em vez da outra? Nem o amor do pai a redime de sua condição de rejeitada: ´... entre o meu pai barulhento e vital e aquele homem distante, erguia-se a sombra onipotente e onipresente da filha morta´ (p.60). Ela vai estudar em um colégio interno, mesmo contra a própria vontade. A mãe assim se refere ao momento em que ela nasceu: ´nessa noite entrou em minha vida uma intrusa´ (p.27). Ao que nos parece, seguindo os enredos, sejam quais forem as razões das escolhas, elas culminam sempre no desajuste de ambos os filhos: um se desagrega pela falta de amor; o outro, pelo excesso.

O incesto também tem sido um tema bastante visitado pela literatura, desde o amor do rei Édipo, herdeiro da maldição familiar do pai, e sua mãe Jocasta ( Édipo Rei, de Sófocles). O passado de Laio, seu pai, que durante um período de exílio na corte de Pélops, apaixona-se por seu filho Crisipo e rapta-o, reitera a maldição do seu destino. É a ira de Hera, protetora dos amores legítimos, que dá origem à maldição dos Labdácidas (família de Laio), razão pela qual, a profecia não impede o destino de o filho e a mãe se amarem, o propicia.

Em Os Maias, de Eça de Queiroz, Carlos e Maria Eduarda, criados separados em função da separação dos pais, se encontram na fase adulta e se apaixonam; a distância do convívio os fez inocentes como Édipo e Jocasta. Há, entretanto, certa sordidez no comportamento do irmão quando, ao saber do parentesco, ainda mantém o conúbio com a irmã, sem avisá-la da descoberta. Em Lavoura Arcaica, o amor entre André e a irmã Ana é a causa de toda a tragédia familiar, como se a consciência do ato os amaldiçoasse; o pai não aceita a falência da educação dada, nem a transgressão aos padrões de comportamento: Ana é a serpente, por isso é ela que morre materialmente.

A Rejeição de pai pelo filho, como o faz Halim com Omar, ladrão do amor de Zana, como o faz o Pai de O ponto cego pelo filho frágil, é a continuação de uma história antiga. Laio e Jocasta, após ouvirem do Oráculo de Delfos que o filho que esperavam mataria o pai e se casaria com a própria mãe, decidiram contrariar o destino. Quando a criança nasceu, foi entregue a um escravo que, em vez de matá-la, furou seus calcanhares e abandonou-a perto do monte Citéron. A criança foi encontrada e criada por um casal de pastores, que, sem condições, entregam-no ao rei de Corinto. Como disse Prometeu, à hora do acontecido, foi essa atitude que traçou o rumo da profecia.

Mas Laio não é o iniciador dessa história de rejeição, é só olhar a mitologia e ver na atitude dos deuses a mesma estratégia: Urano impediu seus filhos de nascerem, Cronos os devorou, Zeus engoliu Métis, sua primeira esposa, grávida de Atena; em todos os casos, tentava-se fugir das previsões dos oráculos, como o fez Príamo, o rei de Tróia, com o filho Páris. Em todos os casos, a estratégia da rejeição não impediu o cumprimento das profecias. Também Halim abusou Omar, tentou enviá-lo para longe, mas não conseguiu diminuir o amor de Zana pelo filho; quando não era a presença dele que atrapalhava, era a ausência, ainda mais forte que a presença.

Voltando à paixão de Édipo por Jocasta, é interessante lembrar, que foi a relação deles que deu à psicanálise (Freud) matéria para o estudo de um complexo: a paixão do filho pela mãe, ou a busca pela mãe através da mulher com quem ele se relaciona: o Complexo de Édipo. No caso de André, personagem de Lavoura Arcaica, há indícios de que ele via em Ana a extensão do amor da mãe e a possibilidade, até inconsciente, de fazer jus à educação do pai, de manter a família unida num só núcleo. Também o personagem de Um copo de cólera, ao esperar a namorada ´deitado como um grande feto´, parece querer tê-la como num ritual de volta ao ventre materno. Sua agressividade é toda desejo de proteção. Zana, por sua vez, não permite que Omar solidifique nenhum relacionamento, porque nenhuma das mulheres com que ele se envolve seriamente - a Mulher Prateada e a Pau-Mulato - são dignas dele, ou seja, nenhuma possui as próprias características dela, a mãe.

O diálogo sempre é possível entre obras que abordam a família contemporânea, permeada com seus problemas e desajustes antigos, eu diria, eternos. A literatura da Antigüidade Clássica e a Bíblia Sagrada confirmam isso. Os temas não são novos, mas têm-se renovado na produção literária contemporânea.

Aíla Sampaio
Mestra em Literatura, professora do Curso de Letras da Unifor

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Machado. Esaú e Jacó. São Paulo: Ática, 1992.

Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. São Paulo: Paulus, 1990

HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

HATOUM, Milton. Relato de um certo oriente. 2ª. Ed. São Paulo: Companhia das

Letras, 2003

QUEIROZ, Eça. Os Maias. São Paulo; Martin Claret, 2005

LUFT, Lya. A Sentinela. 4.ed. São Paulo: Siciliano, 1999

LUFT, Lya. O ponto Cego. 4.ed. São Paulo: ARX, 2002

NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. 3. ed. São Paulo, Companhia das Letras,2002

NASSAR, Raduan. Um copo de cólera. 5.ed. São Paulo, Companhia das Letras,2002
SOFÓCLES, Édipo Rei. São Paulo: Martin Claret, 2002