domingo, 12 de agosto de 2012

O AMOR E SUAS MUITAS HISTÓRIAS






  
O novo livro de Isa Magalhães, O jogo do amor, surpreende pela ousadia. Ela mistura o tom ensaístico ao discurso literário, amalgamando-os ao misticismo do tarô, sem, entretanto, perder o foco: o amor, o tema mais visitado da literatura universal, o mais antigo e sempre atual, inesgotável. Essa transdiscursividade prende o leitor por liames inusitados, como gavinhas de uma trepadeira, levando-o como na correnteza de um rio, cuja água tem a mesma fluência de sua linguagem simples e acessível, do tom prosaico e da leveza da fala, que parece dirigir-se a um interlocutor íntimo.

            Tudo a ver com a personalidade de Isa esse olhar caleidoscópico sobre o mundo que a cerca.  E como não ser múltipla ao falar de amor, esse sentimento visceral que, em nenhuma das suas formas, é catalogável ou passível de definição?  Mas ela, embora trilhando estradas distintas, aponta-nos as bifurcações e não se perde nem coloca desordem na miscelânea de olhares. Ao contrário, o livro organiza-se em três partes distintas, independentes, mas perfeitamente concatenadas. Há unidade na diversidade, quando se costuram as três partes com seus pontos comuns: o amor, os relacionamentos, a vida em seu curso.

            Na primeira, ela discorre sobre o amor, sua sublimidade, suas contradições, sua força, seus mitos. Em nenhum momento, tenta conceituar ou delimitar as fronteiras entre o que seja amor, paixão ou simplesmente atração; dá, sim, munição para que o leitor formule suas próprias concepções, não o deixando, entretanto, sem noções elementares, como as das quatro fases vividas no começo de qualquer envolvimento amoroso: Atração, Encantamento, Envolvimento e Intimidade (ou compromisso), etapas variáveis de acordo com a situação, época e cultura em que se vive. Disserta, ainda, sobre o amor erótico e o amor romântico, resgatando a história de Eros e Psiquê, para ilustrar a mitificação; segue tecendo a relação entre amor e sexo, e descreve os tipos de relacionamentos, sem moldar receitas, mas tão-somente  conduzindo o leitor a reflexões.

            Na segunda parte, há 22 contos, todos inspirados ou adequados à simbologia das cartas do tarô, encenando, cada um, enredos que ilustram um tipo de amor. Em todas as histórias estão presentes os elementos constitutivos do conto, com variação no ponto de vista da narrativa, todas costuradas pelo tema do amor, suas contradições e conflitos, medos, ciúmes, frustrações, traições, tristeza, dor, encontros e desencontros. Fica clara a alternância da voz da autora e da voz de seus diversos narradores, possibilitando ao leitor a vivência com o discurso real e a experiência estética com o ficcional.

No terceiro capítulo, a autora explica ao leitor o que é o Tarô, conta sua história milenar, relaciona-o à Psicologia, discorre sobre os Arcanos Maiores e seus significados, bem como sobre a personalidade dos amantes no Tarô para conduzir à compreensão de que temos exatamente o parceiro que merecemos. Seu objetivo não é fazer apologia às cartas ou ensinar métodos de utilização, mas o de propiciar ao leitor os conhecimentos básicos para, por meio delas,  entender seu relacionamento, autoconhecer-se e descobrir o amor através dos símbolos. Sua atitude tem a honestidade de suas convicções, sem pretensão de afirmar verdades incontestáveis ou passar a fórmula da felicidade.

Assim, sem romantismo ou pieguice, o amor se revela vida e destruição, felicidade e tristeza, desvelando-se em diversas situações, ora compondo um quadro literalmente romântico, ora enveredando pelo hiperrealismo, ora encenando o insólito que caracteriza o Fantástico.


Aíla Sampaio