sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

As paixões de Shakespeare, segundo Teófilo Silva.


Teófilo Silva é cearense radicado em Brasília, leitor de Shakespeare desde a adolescência. Para compensar a aridez do Planalto, onde mora há duas décadas, criou a Sociedade Shakespeare de Brasília e passou a ministrar periódicas palestras sobre a obra do Bardo. Sua aguda visão crítica do panorama sócio-político brasileiro e seu apurado conhecimento da obra shakespeareana resultaram num livro intrigante e ousado: A paixão segundo Shakespeare (W Edições: Brasília, 2009, 368p.).

Advirto os incautos: não se trata de uma crítica do ponto de vista literário nem de mais um trabalho acadêmico acerca de Shakespeare. Teófilo mostra, em seus ensaios, as peças encenadas na realidade política e social do nosso país. Os fictícios personagens ganham rostos e nomes reais, e o cenário não é outro senão a terra brasilis, notadamente, Brasília, palco de corrupção e aberrações. Revoltado com as injustiças sociais, Teófilo, ácido observador do comportamento permissivo dos homens ‘graves’, trouxe à cena Hamlet, Horácio, Romeu, Julieta, Macbeth, Petrúquio, Catarina, Ájax, Tersites, Brutus, Otelo, Desdêmona, Ricardo, Ana, Lear, Cordélia, Falstaff, Rosalinda, Proteu, entre outros dos 1.200 personagens do teatrólogo inglês, para mostrar a perenidade e a atualidade deles. O Brasil é, hoje, um teatro medieval, a encenar práticas obscuras, tal como o fazia a Inglaterra elizabetana, que serviu de pano de fundo aos enredos do Bardo.

Teófilo mostra que a obra de Shakespeare é um conjunto (quase) uniforme, como a Bíblia, pois ela toda se volta para a comédia humana. Diz: “é como se ele tivesse a nítida convicção do que estava fazendo, desde o primeiro livro. Ele iluminou todos os recantos da alma humana em sua obra. É o homem diante da tarefa de viver, sobre os mais diversos papéis que ele desempenha na sua luta contra a morte, pelo seu desejo de vida e pelas imposições que ela provoca” (p.338). Ele cita, no decorrer dos ensaios, trechos de todas as 38 peças para ilustrar os ‘enredos’ da vida real. Criterioso, ele faz também uma análise sobre as traduções de Shakespeare para a Língua Portuguesa e fala do desafio de ler as peças no original. Critica muitas adaptações delas para o teatro, que mais parecem ‘puro entretenimento’, e não deixa de discutir as dificuldades enfrentadas pelos que se aventuram a fazer um bom trabalho.

Nos nove ensaios que compõem a obra, Teófilo mostra, com apuro estético e a simplicidade dos que têm consciência do uso da linguagem, a visão de Sheakespeare sobre as Paixões. Em “A Paixão segundo Shakespeare”, texto que dá título ao livro, ele discorre acerca dos leitores e admiradores do teatrólogo, situa-o no tempo e no espaço, apontando já a atemporalidade de sua criação. Em seguida, abre um capítulo intitulado “Paixão pelo homem”, onde enfoca aqueles que ele considera os mais fortes sentimentos humanos: ‘ Amor’ e o ‘Orgulho’, a que se seguem: “A paixão pela ordem” (O poder e A justiça), “A paixão pela vida” (A amizade), “A paixão por ele” (Freud X Shakespeare e Marx, leitor de Shakespeare), “O fim da paixão” (Entre a vida e a morte). Neste último, ele assinala que o tema da morte é bastante recorrente, fato até natural, já que quase duas dezenas das peças são tragédias, gênero predominante na época. A morte, na obra, segundo o autor de A paixão, representa o medo, o nada o absurdo, a revolta, a ironia, o desespero, a dor, a religiosidade, a transcendência e, ironicamente, a comicidade.

Corrupção, desonestidade intelectual, ciúme, maldade, ambição, sede de poder, complicadas relações entre pais e filhos, nada fugia à pena do Bardo. É ler “Rei Lear”, “Macbeth”, “Otelo”, “Os dois Fidalgos de Verona”, entre outras peças, ou ouvir Jaques, personagem da peça “Como Gostais”, quando diz “O mundo inteiro é um palco e todos nós somos atores”, para deslocar-se do século XVI para o nosso tempo. As marcas de comportamento traçadas por Shaskespeare, em seus personagens, são as mesmas marcas que se notam no homem contemporâneo, agravadas pela manipulação da mídia que impõe ‘modelos’ nocivos, ditaduras de beleza, faz apologia ao silicone, a tatuagens e desperta o espírito voyeur com programas do tipo Big Brothers da vida.
Teófilo interroga seu leitor: Por que devemos nós, brasileiros, ler Shakespeare? Responde, utilizando as palavras do Professor e crítico Harold Bloom: ‘Porque Shakespeare alarga a nossa mente, amplia a nossa capacidade de visão e existência, dando-nos uma dimensão de amplitude e profundidade’. Seus personagens saem de dentro das páginas dos livros e dos palcos para entrarem na vida, tornando-se imortais. Leitor/expectador e personagens conversam intimamente por meio da linguagem simples e da identificação que eles possibilitam.

O livro de Teófilo facilita o entendimento da obra de Shakespeare. Mais que isso: as interpretações ousadas, as associações dos enredos fictícios do século XVI às histórias reais encenadas no cenário brasileiro, lançam uma luz sobre a nossa realidade, e colocam à mostra as mazelas de uma sociedade perdida, cujos valores foram invertidos. É um grito de revolta com a política brasileira e seus mentores, assunto grave, mas tratado em grande estilo quando cotejado com a monumental obra de Sheakespeare. Difícil tratar de um assunto tão sério, de modo tão leve e sedutor como o autor o fez. Não foi à toa que Paulo Reis, no prefácio, a obra diz que ela é flamejante e dá uma bela contribuição para o aprimoramento civilizatório nacional. De fato, A paixão segundo Shakespeare é um tiro certeiro na mediocridade, “ uma verdadeira dádiva para todos os que querem um Brasil melhor”.


Apresentação do livro no lançamento em Fortaleza - Ideal Clube, 24/01/2010

A Literatura no Mundo virtual – textos apócrifos e falsas autorias na internet – Parte I

A internet tem sido uma ferramenta eficaz ao democratizar a publicação de textos literários, mas tem, por outro lado, dado espaço a imbróglios relativos à autoria. Esta pesquisa mostra a profusão de textos apócrifos no mundo virtual, bem como equívocos quanto aos créditos dados em poemas e crônicas de escritores consagrados na literatura universal. Como são muitos os casos, daremos continuidade às amostras na Parte II do artigo.

O mundo virtual ampliou os espaços da literatura, facilitou a publicação de textos literários em blogs e sites e, sem dúvida, democratizou o acesso de estudantes e internautas em geral a textos antes restritos aos livros.
Essa facilidade, entretanto, não é totalmente benéfica. Pesquisas sérias devem ser feitas em sites sérios, pois a democracia só é positiva quando está na mão de quem tem capacidade e caráter para exercê-la. O espaço virtual é terra de todos e de ninguém.

Há quem se preocupe com a credibilidade do que posta, e cita autorias e fontes; há pessoas mal intencionadas, que utilizam o ócio para fazer confusão; e há os incautos, que recebem e repassam textos sem qualquer preocupação com a autenticidade deles. Claro que ninguém é obrigado a saber de cor a autoria de todos os textos, mas, antes de repassá-los ou utilizá-los em pesquisas escolares e acadêmicas, bem como usá-los em avaliações e provas, deve-se conferir a autoria em livros ou com profissionais da área.

Não bastasse a omissão da autoria, que constitui um crime previsto na lei nº 10.695, relativa à violação de direito autoral, os escritores estão sendo vítimas de outro engodo: a atribuição de autoria. Arnaldo Jabor, Luís Fernando Veríssimo, Chico Buarque, Dráuzio Varela e Mário Prata, por exemplo, estão vivos e podem rechaçar a atribuição, embora não possam detê-la. Já Shakeaspeare, Clarice Lispector, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Charles Chaplin, Fernando Pessoa, entre outros, circulam na internet como autores de textos que nunca escreveriam e nada podem fazer. O pior é que pessoas utilizam como fonte de pesquisa sites abertos a contribuições, como o www.pensador.info; qualquer pessoa, por mais ingênua que seja, vasculhando as páginas desse site, percebe que um mesmo texto é postado várias vezes com autorias diferentes, tal como na página da Wikipédia, onde qualquer internauta pode se cadastrar e postar o que quiser. Já foram criados blogs e comunidades no Orkut para esclarecer dúvidas quanto a autorias, contribuindo, assim, para que o espaço virtual não seja apenas um celeiro de engodos, um desserviço ao aprendizado da literatura, mas um espaço legítimo que pode divulgá-la e servir de fonte de conhecimento, com credibilidade.

Drummonds

Carlos Drummond de Andrade, nome consolidado na literatura brasileira, tem estilo discreto e comedido, avesso, entretanto, a todo conservadorismo estético. Deixou uma obra consistente, acrescida dos poemas eróticos, de igual qualidade, desengavetados após sua morte. Não bastassem esses acréscimos, interneteiros insatisfeitos se deram o direito de atribuir-lhe versos que não constam na sua bibliografia, como é o caso do poema “Viver não dói”, amplamente postado em blogs e repassado em e-mails e scraps:

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.


Vanessa Lampert, uma das pessoas sérias, no mundo virtual, que estão lutando pelo crédito aos verdadeiros autores, fez uma análise interessante desse texto e deu uma explicação bem embasada. Em seu blog, ela discorre sobre o possível passo a passo da construção do poema, a começar pela crônica “As possibilidades perdidas”, de Martha Medeiros, publicada em 20 de agosto de 2002, no site Almas gêmeas. Ela diz que Martha se inspirou em um verso do poema “Canção”, do poeta mineiro Emílio Moura, amigo e contemporâneo de Drummond: “Viver não dói. O que dói / é a vida que se não vive”, discorreu sobre a vida e concluiu com uma interrogação seguida de uma resposta: “Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e vivendo mais". A crônica de Martha, transformada em poema, recebeu o acréscimo de um texto da novelista inglesa Mary Cholmondeley : "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-se do sofrimento, também perde a felicidade." ("Every day I live I am more convinced that the waste of life lies in the love we have not given, the powers we have not used, the selfish prudence that will risk nothing and which, shirking pain, misses happiness as well."), com o enxerto final pinçado do livro You gotta keep dancin, de Tim Hansel, escrito logo após o acidente que ele sofreu e inspirado nas dores intermitentes que o perseguiram a partir daí. Ele diz que não podemos evitar a dor, mas podemos evitar a alegria: "Pain is inevitable, but misery is optional. We cannot avoid pain, but we can avoid joy."

Há muitos outros textos atribuídos ao poeta itabirano. O segundo mais citado é “Conselho de um velho apaixonado”:

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.


Esse poema não consta em nenhum dos seus livros, nem se sabe ao certo quem é o verdadeiro autor. Também não constam em sua Obra Completa: "Desejo(s) e/ou Síntese da Felicidade” (“Desejo a você/Fruto do mato/Cheiro de jardim/Namoro no portão/Domingo sem chuva" ); “Reverência ao destino” ("Falar é completamente fácil, quando se têm palavras em mente que expressem sua opinião), que vem sempre acrescido dos versos do poema intitulado: “Eterno”, de autoria dele; e "Inconfesso Desejo” (“Queria ter coragem / Para falar deste segredo / Queria poder declarar ao mundo / Este amor / Não me falta vontade /Não me falta desejo”).

As falsas atribuições ao poeta proliferam na Net como uma epidemia. A ele creditam: "Almas Perfumadas” ( Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daqueles que conseguimos acender na Terra), de Ana Claúdia Saldanha Jácomo; "Máscara”, de Dante Milano; a frase "Não sei quando virá o amanhecer, por isso abro todas as portas" ("Not knowing when the dawn will come I open every door."), de Emily Dickinson.

"Recomeçar” (Não importa onde você parou,/em que momento da vida você cansou,/o que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar) foi, inclusive, lido por Ana Maria Braga em seu programa “Mais você”, com com o título “Faxina da alma”e os créditos dados a Drummond. A criação é, no entanto, de Paulo Roberto Gaefke e, em algumas versões deturpadas, apresenta ainda os versos VII – de “Da Minha Aldeia” no final: (Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/Porque eu sou do tamanho do que vejo E não, do tamanho da minha altura) que são de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa.


A conhecidíssima crônica “Ter ou não ter namorado” (“Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema na sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho”), de Artur da Távola, aparece na Net, variadas vezes, como de Drummond.

Pertinente seria que os internautas sem responsbilidade lessem um dos poemas do livro “Viola de Bolso”, do mineiro de Itabira: “Poupem-me, por favor ou por desprezo, se não querem poupar-me por amor”.

Veríssimos inverossímeis


Luís Fernando Veríssimo, cujos textos são sóbrios e bem humorados, na Internet, aparece como autor de divagações que mudam o seu estilo: ora ele é romântico, conselheiro, ora adere ao filão da autoajuda. Ao ler a crônica “Quase”, ele mesmo ficou surpreso ao descobrir que a obra levava seu nome e estava amplamente difundida em slides:

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. /.../ Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Em 2005, no Salão do Livro de Paris, Veríssimo recebeu uma coletânea de textos de escritores brasileiros traduzidos para o francês, das mãos da própria autora, e se surpreendeu ao ver que o seu escolhido era “Quase”, cuja tradução ficara “Presque”. Esclareceu o equívoco com a organizadora e, ao retornar ao Brasil, contou o episódio na sua coluna do Jornal Zero Hora, relatando episódios, em tom jocoso, sobre o tal texto: “O incômodo, além dos eventuais xingamentos, é só a obrigação de saber o que responder em casos como o da senhora que declarou que odiava tudo que eu escrevia até ler, na internet, um texto meu que adorara, e que, claro, não era meu. Agradeci, modestamente. Admiradora nova a gente não rejeita, mesmo quando não merece. O texto que encantara a senhora se chamava "Quase" e é, mesmo, muito bom. Tenho sido elogiadíssimo pelo "Quase". Pessoas me agradecem por ter escrito o "Quase". Algumas dizem que o "Quase" mudou suas vidas. Uma turma de formandos me convidou para ser seu patrono e na última página do caro catálogo da formatura, como uma homenagem a mim, lá estava, inteiro, o "Quase". Não tive coragem de desiludir a garotada. Na internet, tudo se torna verdade até prova em contrário e como na internet a prova em contrário é impossível, fazer o quê?” (ZERO HORA, 24/3/2005). E finalizou: "Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor do ‘Quase’ para agradecer a glória emprestada".

Não muito tempo depois recebeu uma carta de uma estudante catarinense, Sarah Westphal Batista da Silva, de 21 anos, contando ser a verdadeira autora. A revelação valeu uma reportagem na capa do Caderno Variedades do jornal Diário Catarinense (e também no clic RBS, o portal da RBS) feita pelo repórter Felipe Lenhart, que descobriu a jovem estudante depois de muitas navegadas pela internet.


“A felicidade pode demorar”, cujo título real é "O amor e a vida" ou "Uma reflexão sobre o amor e a vida" também não é do Luís Fernando Veríssimo, foi escrito por François de Bitencourt:

Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer
senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente,
e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar,
tanto quanto precisamos respirar...é nossa razão de existir.
/.../ A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem...


“Tipo assim”, de Kledir Ramil, também é arbitrariamente postado como de Luís Fernando:

Tô ficando velho! Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente na saída do show do Charlie Brown Jr. Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.
E aí, o show foi legal? /.../
Fiquei tipo assim calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista. Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão daqui a pouco vamos precisar de tradução simultânea.


Um dos mais espalhados pelo mundo virtual, em nome do cronista gaúcho, é “Um dia de Modess na vida de um homem”. O texto é, de acordo com Beth Vidigal, de três jovens jornalistas – Nina Lemos, Giovana Hallack e Raquel Affonso (do site 02 Neurônio). O autor da crônica assina “Rolinha”. Já a crônica intitulada “Diga Não às Drogas”, que faz a referência aos “cantores e compositores goianos” ou aos “músicos de Goiás” circula também com o título de “Depoimento Emocionado de Luiz Fernando Veríssimo Sobre sua Experiência com as Drogas” igualmente não é dele:

“Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois quando você quiser é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do Chitãozinho e Xororó e em seguida um do "Leandro e Leonardo".
Achei legal, uma coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez. /.../ POR FIM NO ÚLTIMO ESTAGIO ESTAVA OUVINDO SERGINHO E SUA ÉGUA POCOTÓ. Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa”.


Betty Vigigal, em sua página Textos Apócrifos na Internet, comenta que a “Revista Veja, na edição de 9 de julho do mesmo ano, publicou uma nota na seção “Guia”, mencionando vários artigos que circulam, pela net, atribuídos a quem não os escreveu. Este foi um dos contemplados. No número seguinte, vários verdadeiros autores – de outros textos – identificaram-se. Mas esta brincadeira com a música chamada “brega” não teve a autoria reivindicada por ninguém”.
Sempre foram tantas atribuições de autoria feitas a Veríssimo que ele, já em 18 de janeiro de 2002, escreveu no Estadão, sob o título “Apócrifos”: “'Que fique estabelecido, portanto, que qualquer texto mal escrito, ou bem escrito mas controvertido, ou incoerente, bobo, nada a ver, pretensioso, metido a besta, pseudolírico, pseudoqualquer coisa, pseudopseudo, ou que de alguma forma possa dar cadeia ou problemas com autoridades, goianos ou outros grupos, com a minha assinatura, na Internet ou fora dela, não é meu. Todos os outros - inclusive alguns com outras assinaturas, até prova em contrário - são meus”"

Betty Vidigal adverte que “Quando Veríssimo diz: “Todos os outros – inclusive alguns com outras assinaturas, até prova em contrário – são meus”, refere-se, por certo, às inúmeras crônicas que escreveu e que, justamente por serem tão divertidas, tornaram-se “de domínio público” e foram transformadas em piada, em versões abreviadas que mantêm o sentido geral sem manter a sutileza dos diálogos verissimianos”.

Quintanas e Quintana

Outro gaúcho bastante agraciado com autorias falsas é o poeta Mário Quintana. O texto “Não quero alguém que morra de amor por mim”, um dos mais divulgados, inclusive em belos slides, é de Adriana Britto e tem como título “Certezas”. Leiamos uma parte dele:

Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim,
que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
/.../
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.


Emílio Pacheco, pesquisador de textos apócrifos na Internet, já fez uma lista de "falsos Quintanas" no seu artigo homônimo e deu uma boa contribuição aos que querem levar a sério a bela atitude de repassar textos literários por e-mails ou scraps no Orkut. Leiamos um dos mais repetidos nas páginas virtuais: “Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem. (...) Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação”.Em forma de versos ou em prosa, esse texto circula pela internet em slides, montagens, em perfis do Orkut ou mesmo em forma de mensagens. A dupla Bruno e Marrone, inclusive, o declamou em um dos seus shows. Tornou-se comum, no mundo virtual, a colagem de textos de autores diferentes... nem sempre o sentimento da pessoa se traduz em um só poema e ela faz o recorte de versos, cola, e esquece de dar o crédito ao(s) autor(es). Nesse que citamos há pouco, há uma frase famosa de O Pequeno príncipe, de Saint-Exupery: “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”. Já a frase “Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação” foi retirada de um provérbio árabe. Outro enxerto foi feito há pouco tempo: “para o homem provar que é homem, não precisa ter mil mulheres, basta fazer uma feliz”.
Imbatível em quantidade de reproduções na Net é o texto que começa: “Com o tempo você vai percebendo que, para ser feliz com outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela”, que se encerra com a afirmação: “O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você”. Não há absoluta certeza da autoria; há uma página na Internet em que o ‘poema’ aparece com a autoria de Kátia Cruz. Já o verso das borboletas é atribuído ao americano Walter D.Ehlers: Não corra atrás das borboletas, plante uma flor no seu jardim e todas as borboletas irão até ela. (http://sosfauna.braslink.com/reflex.htm). Uma informação, entretanto é segura: o texto não é do Mário Quintana.

Várias crônicas da Martha Medeiros circulam como se fossem de Quintana, com a forma adulterada e com colagens de frases e/ou versos alheios. Tal é o caso de: “Felicidade Realista”, “Promessas Matrimoniais”, “Sermão do Casamento” (também conhecido como "Casamento na Igreja"), “Sentir-se Amado” e “A impontualidade do Amor”. De acordo com Pacheco, essa atribuição de autoria de textos em prosa, que nada têm a ver com o estilo a Quintana, deve-se ao fato de Vinicius de Moraes ter escrito muitos nessa forma literária, e todos falavam de amor. O estilo de Quintana não é exatamente romântico; sua poesia, além de refletir o processo criador, reflete a existência, a infância, a vida de modo geral. Foge totalmente dessas características o poema constantemente repassado com o nome do gaúcho, cujo título é “A Idade Para Ser Feliz”, na verdade, escrito por Geraldo Eustáquio de Souza. Com “Amor é Síntese” ocorre o mesmo equívoco; a verdadeira autora é Mirtes Mathias. Na versão repassada na Net, o verso final aparece modificado: "E eu serei perfeito amor". Leiamos o poema na íntegra:

Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!
Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeita, amor!


Outros exemplos de apócrifos atribuídos a Quintana: “Algo sobre o amor” (“Para meus amigos que estão solteiros... casados... “). “Amadurecimento” (“Aprenda a gostar de você, a cuidar de você, e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você”.); e frases/versos como: “Se for para esquentar, que seja no sol, se for para roubar, que seja um beijo...” ; “Sentir primeiro, pensar depois/ perdoar primeiro, julgar depois...”. A cada dia parece surgir um novo texto ou poema falsamente atribuído a Quintana, de forma que é difícil elaborar uma lista completa, como assegura Pacheco. Esta foi iniciada por Lúcia Kerr Jóia, da comunidade ‘Afinal, Quem é o Autor’, atualizada com a ajuda de vários colaboradores, como Jane Araújo, Westh Ney e outros. Um poema verdadeiramente de Quintana aparece na Internet modificado, a começar pelo título de “O tempo” ou “A vida”, ambos errados. Vejam a versão original:

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-ªfeira...
Quando se vê, passaram sessenta anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.


Em alguns sites e blogs, o poema aparece com o verso “quando se vê, perdemos o amor da nossa vida”, com o acréscimo final: “E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará”. Há outras variações, mas todas não passam de adulterações da forma original.

“Deficiências” ou “Dicionário do Quintana” é, na verdade, a parte final de um texto redigido pela professora Renata Vilella, da escola mineira Flor Amarela:

Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive,
sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio,
de fome, de miséria.
E só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um
amigo, ou o apelo de um irmão.
Pois está sempre apressado para o trabalho e
quer garantir seus tostões no fim do mês.
/.../
A amizade é um amor que nunca morre.


As frases da professora foram reformuladas e colocadas em forma de versos, com o enxerto final de um verso do poeta gaúcho. Na seção "Notícias On-line" do site da escola, localizada em São Vicente-MG, ela desabafa: “Há meses recebi um e-mail dizendo que circulava na internet o texto que está escrito na minha apresentação como sendo de autoria de Mário Quintana, não levei a sério, para falar a verdade me senti até honrada, porém quando o senado federal divulgou no folder do Dia Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência escrevi uma mensagem para o Senador Flávio Arns, autor do projeto, pedindo que esclarecesse, mas não obtive resposta. Como o texto foi escrito no final de 1990, quando eu estava indo para o interior de Minas e Mário Quintana ainda era vivo, nem psicografado pode ter sido”.

A esses amantes dos recortes e das colagens, falseadores de versos e estilos, Quintana deve dizer, do alto de sua serena eternidade: “Eles passarão / Eu passarinho”.

Pessoa e outras pessoas

Fernando Pessoa é também constantemente perseguido pelos desocupados. A ele atribuíram parte crônica “O medo: o maior gigante da alma”, que, de fato, é do professor de literatura do Objetivo e da UNIP, Fernando Teixeira de Andrade. O fragmento que circula com a falsa autoria foi retirado deste texto:

“Para quem tem medo, e a nada se atreve, tudo é ousado e perigoso. É o medo que esteriliza nossos abraços e cancela nossos afetos; que proíbe nossos beijos e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Esse medo que se enraíza no coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro, como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza. /.../ Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".


Do mesmo modo, não é de Fernando Pessoa o soneto “A concha”, mas de Vitório Nemésio. Vejam a primeira estrofe:

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.


Também não é de Pessoa: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. As pessoas certificam-se da autoria na própria internet e, não tendo comprovado legitimamente, arranjam as desculpas mais ‘amarelas’. Vejam o que foi respondido na página do Multiply de Vanessa Lampert, sobre o questionamento de autoria do texto acima: “Saber se Fernando Pessoa escreveu mesmo tal ou qual coisa faz parte do amá-lo como poeta, como o grande fingidor que o foi, como alguém que, de tão gigante, transformou-se em outros, deu voz a um "humano" que habita em cada um de nós. A questão é: QUAL Pessoa escreveu isto? A "caixa" onde repousaram os escritos guardados do funcionário público lisboeta que se tornou o maior poeta de Portugal depois de Camões AINDA guarda segredos. O aumento do período que leva para uma obra tornar-se de domínio público animou recentemente os herdeiros a fazer uma nova "limpa" e editar a obra completa revisada, em Portugal. E se a citação não fosse de Pessoa (e é), tudo bem. Tantos já tentaram e continuam tentando, depois dele, "escrever coisas como versos". É claro que Vanessa retrucou essa declaração e considerou irresponsável a atitude da moça, dando-lhe a alcunha de ‘clonadora’ de textos.

Vejamos outros textos atribuídos indevidamente ao modernista português:

“A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de si com isso”.
Não se sabe quem é o autor.

“Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente”. Autor correto: M. Paglia. Mas quem é M. Paglia?

“Do indivíduo temos que partir, ainda que seja para o abandonar”. Não se sabe o autor.

“Diógenes com uma lanterna em plena luz do dia) procurava um homem; Platão não procurava um homem”. Não se sabe o autor.

“Enquanto não superarmos/a ânsia do amor sem limites,/não podemos crescer/emocionalmente. Enquanto não atravessarmos/a dor de nossa própria solidão,/continuaremos/a nos buscar em outras metades./Para viver a dois, antes, é/necessário ser um”. Não se sabe o autor.

“Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo”.
Trecho de uma crônica de Luis Fernando Verissimo. Aqui, pode ter havido uma confusão com o poema Cartas de amor : “Todas as cartas de amor / são ridículas./ Não seriam cartas de amor / se não fossem ridículas”.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível” /.../. Autora: Adriana Britto.

“Navegue Navegue descubra tesouros,/mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá./Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra”./.../ Autora: Silvana Duboc . Aqui também pode ter havido uma confusão com o poema Navegar é preciso : “Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: / "Navegar é preciso; viver não é preciso. / Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: / Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.


“Um dia a maioria de nós irá separar-se /.../ Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,tantos risos e momentos que compartilhamos”.
Não se sabe o autor.

Tentar justificar tais imbróglios com a multiplicidade da poesia pessoana, por conta de diferentes heterônimos e estilos, não convence. Até que seja provado, não é do autor o que não consta em suas publicações em livro.

É tão séria essa questão de confiabilidade nos sites em que pesquisamos! Por isso insisto em advertir os pesquisadores (professores, estudantes, curiosos, apaixonados pela literatura) que, se não conhecem o estilo do autor (mesmo quando têm tantos estilos como o Pessoa), procurem um livro para comprovar a autoria antes de utilizarem os textos em sites, trabalhos e até provas, onde já vi impresso o texto que citarei agora, com a autoria do Fernando Pessoa:

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…



Em outro blog, o depoimento do que se diz o verdadeiro autor das três frases finais do poema, assinado com o pseudônimo de Nemo Nox, esclarece que o texto é uma montagem:

“No início de 2003, chateado com os obstáculos que encontrava e tentando ser um pouco otimista, escrevi aqui estas três frases: “Pedras no caminho? Eu guardo todas. Um dia vou construir um castelo”. Não pensei mais nisso até que recentemente comecei a receber e-mails pedindo que eu confirmasse ser o autor do trechinho. Aparentemente, o trio de frases tomou vida própria e se espalhou pela internet lusófona com variações na pontuação e na atribuição da autoria. Começou aparecendo como título de fotolog (já encontrei uma meia dúzia com este nome) e como citação anônima em rodapé de mensagens (em vários fóruns de debate online). Depois alguém resolveu pegar um poema (possivelmente de Augusto Cury, autor de Dez Leis para Ser Feliz), colar o tal trechinho no fim e distribuir tudo como se fosse obra do Fernando Pessoa. Não demorou muito para que as minhas três frases começassem a pipocar pela rede atribuídas ao poeta português (afinal, é sempre mais bacana citar um famoso escritor luso que um quase desconhecido blogueiro brasileiro). Cheguei eu mesmo a duvidar da minha autoria. Poderia ter cometido um plágio inconsciente, recolhendo da memória alguma coisa lida no passado e achando que se tratava de material original? Revirei os poemas pessoanos em busca de pedras e castelos mas não consegui encontrar qualquer coisa remotamente parecida ao trecho em questão. Vasculhei os heterônimos e tampouco achei o guardador de pedras. Seria de qualquer forma estranho Pessoa ter citado Drummond desta forma e o fato não ser amplamente divulgado por estudiosos dos dois lados do Atlântico. Enfim, convenci-me, até que provem o contrário, que fui eu mesmo quem escreveu as tais linhas. Outra coisa engraçada é que nem me sinto orgulhoso de ter escrito isso, parece-me hoje até um pouco piegas, como aqueles cartazes motivacionais com fotos bonitas e frases otimistas. Até me admiro de não terem atribuído a autoria ao Paulo Coelho. Também tem gente que usa as frases na internet e me aponta como autor, mas para aumentar a confusão me chamam de Nemo Vox (devem achar que sou irmão do Bono) ou dizem que a citação é do livro Por um Punhado de Pixels (que nunca foi livro, sempre weblog). E agora? As frases estão soltas por aí, não vou brigar por elas, quem quiser dizer que são do Pessoa, do Veríssimo ou do Jabor, fique à vontade. Atribuições incorretas? Eu guardo todas. Um dia vou escrever uma tese”.

Os versos abaixo, divulgados seguramente como do poeta português, não são dele:

Deus costuma usar a solidão
para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva,
para que possamos compreender
o infinito valor da paz.
Outras vezes usa o tédio,
quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono.
/.../



Na comunidade do Orkut ‘Afinal, quem é o autor?’, a jornalista Betty Vidigal descobriu tratar-se de mais uma criação de Paulo Coelho, publicada, em prosa, no livro "Manual do Guerreiro da Luz". Leiamos a versão original:

“O guerreiro da luz aprendeu que Deus usa a solidão para ensinar a convivência. Usa a raiva para mostrar o infinito valor da paz. Usa o tédio para ressaltar a importância da aventura e do abandono. Deus usa o silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras. Usa o cansaço para que se possa compreender o valor do despertar. Usa a doença para ressaltar a benção da saúde. Deus usa o fogo para ensinar sobre a água. Usa a terra para que se compreenda o valor do ar. Usa a morte para mostrar a importância da vida”.

Pouco tempo depois de o livro ter sido publicado, a Revista Época trouxe uma reportagem com o título “Alquimia literária”, declarando que Paulo Coelho era acusado de ‘transmutar’ um texto originalmente escrito pela psicóloga colombiana, Sonia Hurtado, colunista do jornal El Pais, de Cali. Ela acusou o escritor de plagiar o seu artigo intitulado “Cerrando ciclos”, publicado no dia 21 de janeiro de 2003. Segundo a Revista, o texto de Coelho foi publicado originalmente no jornal O Globo em 2004 e traduzido para o espanhol pelo semanário colombiano El Espectador, com o título “'Cerrar ciclos”' (“'Fechar ciclos”). Paulo Coelho, ao se defender, disse que encontrou o texto na internet e admitiu: “Não fui eu quem escreveu o original (infelizmente), mas resolvi adaptá-lo, e agora posso pelo menos reivindicar parte de sua autoria”. Quem quiser ler o artigo da Revista Época na íntegra: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT980656-1664,00.html


Não são de Shakespeare


Não bastasse a obra monumental de Shakespeare, há ainda quem publique em seu nome textos que ele certamente não escreveu. Tal é o caso de: “O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que sofrem, muito curto para os que se alegram, mas para os que amam, o tempo é eterno”, de Henry Van Dyke, diplomata, pastor e escritor americano (1852-1933) . Confiram o texto original:"Time is too slow for those who wait, too swift for those who fear, too long for those who grieve, too short for those who rejoice, but for those who love, time is eternity”.

São apócrifos (e não de Shakespeare) os versos: “Perguntei a um sábio, / a diferença que havia / entre amor e amizade, / ele me disse essa verdade: / O amor é mais sensível e a amizade mais segura”/.../. Não é dele, igualmente, o texto “Aprendi” (ou “Depois de algum tempo”), mas de Verônica A. Shoffstal:

“Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. /.../E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão./.../ “Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar”.

O que nos parece é que alguém leu Shakespeare e pinçou seus pensamentos, envolvendo-os num emaranhado de frases. Note-se que o último pensamento - “Nossas dádivas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar” está numa fala de “Otelo”; Apenas trocram a palavra “dúvidas” por “dádivas”.

A respeito da nova autoria, vejam o comentário que Vanessa Lempert recebeu ao desvendar a autoria do texto: “Olá, meu nome é Camila, moro na cidade de União da Vitória, interior do Paraná, tenho quinze anos e uma opinião bem crítica com relação ao texto de Willian Ferdnand Shakespeare atibuído à Veronica Shoffstall. Primeiro, a autoria de Shakespeare sobre a verdadeira versão desse texto (que tem como verdadeiro título "Depois de um tempo você aprende") é simplesmente incontestável, traz todos os tradicionais traços literários que Shakespeare usava em textos de auto- ajuda, quanto a isso não há duvidas. Segundo, a versão dita distorcida e alongada do texto, fora escrita sem o menor propósito de má-intenção, a mais ou menos um ano atrás, é de minha autoria, e não passou de uma carta que eu escrevi a uma grande amiga para homenagear uma data especial. Como ele foi parar aí e quem o encaminhou, eu não tenho a menor idéia! Porém é verdade sim que o texto não passa de uma coletânea, eu apenas fiz uma pequena reunião do que eu mais gostava sobre Paulo Coelho, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa e outros que a fraca memória não me permite citar agora, com base no texto de Shakespeare, mais alguns resquícios completamente originais de lições de vida,e ficou assim” (Sic).(Camila de Lima)

Desnecessário dizer que a Camila está completamente equivocada quanto a achar sua atitude natural e quanto a autoria que ela diz como certa do Shakespeare. Nada aí é do Bardo inglês, pois ele nunca escreveu textos de autoajuda. Quem não tiver acesso a livros, pode conferir o site que a Betty Vidigal indica como sério na compilação de obras dele: http://www.psrg.cs.usyd.edu.au/~matty/Shakespeare/,

Não são deles...

O belo poema “Por tudo que me deste”, divulgado como escrito por Florbela Espanca, é de autoria do poeta, também português, Carlos Queiróz e foi publicado numa Antologia organizada em Lisboa por Vasco Graça Moura em 2004:

Por tudo que me deste:
- Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insônia, pelas ruas, como um louco...
- Obrigado, obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão,
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
- Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado.
Sem ironia, amor: - Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!


Já a frase “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores... se não houver flores, valeu a sombra das folhas... se não houver folhas, valeu a intenção da semente”, erroneamente creditada a Henfil, é de Maurício Ceolin. Henfil apenas a leu em público, na época do movimento pela Diretas Já, e a utilizou como epígrafe de um livro seu. Outras flores alvo de confusão estão no poema “No caminho com Maiákovski”, atribuída ao poeta russo, quando, de fato, foi escrito por Eduardo Alves da Costa: “Na primeira noite eles se aproximam / e roubam uma flor/ do nosso jardim./ E não dizemos nada...”.

“Revolução da Alma” – “Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue sua alegria, sua paz sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. A razão da sua vida é você mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida” - não é de Aristóteles, mas de Paulo Gaefke, e está no livro Decidi ser Feliz, publicado em 2002. “Solidão”, texto que é repassado com uma foto do Chico Buarque e seu nome impresso, teve a autoria negada por ele. Foi escrito, depois se soube, por Fátima Irene Pinto, publicado em seu livro "Palavras para Entorpecer o Coração" (p.79). O site dela é www.fatimairene.com. Leiamos pelo menos duas estrofes:

Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo.
Isso é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar.
Isso é saudade.


A crônica que intitulam na Net como “Mulheres no topo” e/ou “Maçã: “As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos. Mulheres são como maçãs em árvores. As melhores estão no topo. Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir. Assim as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, eles estão errados. Elas têm que esperar um pouco para o homem certo chegar, aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore”, bem como o poema “Bons amigos” “Abençoados os que possuem amigos, / os que os têm sem pedir. / Porque amigo não se pede, / não se compra, nem se vende. / Amigo a gente sente! // Benditos os que sofrem por amigos, / os que falam com o olhar. / Porque amigo não se cala, / não questiona, nem se rende./ Amigo a gente entende!" não foram escritos por Machado de Assis, pelo menos, não constam em seus livros.
Mesmo os romances da primeira fase machadiana, seus contos ou crônicas, tampouco seu poemas com resquícios românticos trazem o tom ‘meloso’ dos dois textos. Profundo conhecedor da alma humana, Machado caricaturou a sociedade carioca e, por meio dela, traçou o perfil dos seus contemporâneos de modo geral. Seus enredos provocam profundas reflexões de fatos cotidianos que ressoam como uma advertência. São, pois, apócrifos os dois textos a ele atribuídos, a não ser que o verdadeiro autor apareça para assumi-los.

Vinícius e os ‘falsos amigos’


A gente não faz amigos, reconhece-os. Essa frase é emblemática no mundo virtual. Título de Fotologs, blogs, texto de mensagens e scraps de Orkut, Facebook, slides, postagem de páginas dedicadas a Vinícius de Moraes. Garth Henrichs nunca apareceu para reclamar, afinal quem é ele? Ainda vive? Mas o jornalista Paulo Sant’Ana, autor do texto que circula na internet finalizado pela frase de Henrichs, reivindica a autoria do texto atribuído ao poetinha. Vejamos a crônica:

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. /.../
A gente não faz amigos, reconhece-os.


O título que com que aparece no mundo virtual varia: “Amigos”, “Meus Amigos”, ou “Meus Secretos Amigos”. Paula Santa’na, autor do texto a que acrescentaram a frase de Garth Henrichs, recebeu-o por e-mail de um amigo. Conta o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na edição de 19 de junho de 2002: “O colunista Paulo Sant’Ana recebeu esse e-mail do jornalista Emanuel Mattos no dia de seu aniversário e, para seu espanto, identificou que o texto, assinado por Vinícius de Moraes, é de sua autoria. Surpreso, imediatamente ligou e desfez a confusão. A criação de Sant’Ana já deve ter circulado por muitas caixas de mensagens com a assinatura de Vinícius, sem que ninguém soubesse da troca de autor. Somente, é claro, o próprio Sant’Ana.”

A objetividade das frases e a ausência do lirismo que caracterizam os escritos de Vinícius já serviriam de indícios para que leitor percebesse o equívoco da autoria.
Alguém, em algum momento, decidiu que o texto seria muito mais “significativo” se fosse assinado por Vinícius de Moraes, diz o próprio Paulo. O Vinícius, entretanto, é mais ‘derramado’ e emotivo em suas declarações. Ele não costumava escrever

Tão coerentemente para e aplacador as ansiedades diárias. Sua criação é mais explicitamente cheia de delírios, insensatez e lirismo, mesmo quando ele discorria, em prosa, sobre amizade. É ler “Procura-se um Amigo” para comprovar:

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. /.../


Segundo Betty Vidigal, no dia seguinte ao da publicação da nota reproduzida acima, a seção de cartas do jornal Zero Hora trouxe uma mensagem de um leitor que afirmava que a crônica sobre amizade era de Garth Henrichs, e não de Paulo Sant’Ana. E quem seria Garth Henrichs? Segundo o leitor, “um escritor existencialista”. Vidigal diz, ainda, que tentou localizar o texto em inglês, mas nunca o encontrou. Tentando elucidar o enigma, ela diz “Imagino, então, que tenha acontecido aqui o mesmo que aconteceu com os textos atribuídos a Clarice ou Drummond: algo que apenas terminava com uma citação desses autores acaba sendo impingido a eles na totalidade. Paulo Sant’Ana deve ter encerrado a crônica citando Garth Henrichs, que alguém concluiu ser o autor do texto todo. [Ou algum internauta colou a frase no final, o que é mais provável] Esse engano é compreensível. Mas a única explicação para alguém dizer que Vinícius de Moraes o escreveu é desonestidade intelectual – sabe-se lá com que fim!“
( http://www.blassoc.com.br/bettyvidigaltextovm.htm)

A crônica é, no final das contas, intitulada “Meus Secretos Amigos” (sem o adendo final) e foi publicada no livro "O Gênio Idiota", de Paulo Sant’ana, em 1992. Acerca do assunto, Sant’ana enviou um e-mail aos blogs que pesquisavam a confusa atribuição de autoria, (por Suzete Braun, secretária dele): “"Que Vinicius, nada! Este texto é meu, foi publicado há anos neste espaço de Zero Hora. Faz parte do meu livro O Gênio Idiota. Lembro-me que esta coluna, sob o título de Meus Secretos Amigos, fez tanto sucesso que as pessoas recortavam-na e a colavam nas paredes de suas cozinhas. E incrivelmente o meu amigo Emanuel me mandou o poema como se fosse de Vinicius de Moraes, achando que tinha tudo a ver comigo. Não só tinha a ver comigo como era meu. E está lá na Internet, em página adornada, com excelente desenho ilustrativo, assinado por Vinicius de Moraes, acrescido de um regalito: in Antologia Poética”.



Considerações finais

Alguns escritores são mais constantemente contemplados com essa prática de atribuição e adulteração de textos na internet. De acordo com Marcelo Ferraz, em seu artigo “Entre a falência e a redenção: a polêmica circulação de textos literários na internet”, “esses casos de atribuição falsa são sintomáticos para medirmos a penetração simbólica de certos autores da tradição literária canônica na sua realidade de circulação digital”. Assim, Veríssimo, Quintana, Drummond e Shakespeare, entre outros, continuarão a povoar o imaginário dos que não conseguem criar textos próprios e se ocupam em ‘transmutar’ os que já estão prontos. O imbróglio, acredito, tende a ser amenizado pelo acesso de professores e camadas letradas aos sites de relacionamento, o que possibilita não a patrulha, que não é a intenção, mas a advertência de que a ferramenta da internet está criando, em vez de um espaço para a partilha de conhecimentos no campo da literatura, uma deturpação, uma falsa ideia de que as pessoas estão adquirindo mais cultura e lendo mais. No próximo artigo, mostraremos as falsas atribuições de autoria a Clarice Lispector, Jorge Luis Borges, Charles Chaplin, Victor Hugo, Arnaldo Jabor e Gabriel Garcia Marquez.




Consultar:

ALIBERTI, Rosângela: http://www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br/blog.php?idb=2593
AMAZON: http://www.amazon.com/gp/product/1564767442/104-1833697-3288713?v=gance&n=283155.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Vol. Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009.
CAIU NA REDE: http://livrocaiunarede.blogspot.com/
ESCOLA FLOR AMARELA: http://www.floramarela.com.br/
ESTADÃO: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2002/01/18/pol005.html
FERRAZ, Marcelo: http:// www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/1/dliteratura/
GAEFKE, Paulo. Decidi ser Feliz. 2002
LAMPERT, Vanessa. www.autordesconhecido.blogger.com.br/,
MATHIAS MIRTHES. Bom dia amor! Juerp, 1990
MORAES, Vinícius. Poesia Completa. Vol. Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=323AZL004
PACHECO, Emiliano: http://emiliopacheco.blogspot.com/2006/07/os-falsos-quintanas.html
POR UM PUNHADO DE PIXELS: http://www.nemonox.com/ppp/archives/2006_03.html
QUINTANA, Mário. Poesia Completa. Vol. Único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009.
SANT’ANA, Paulo . O gênio idiota. 1992, ed. Mercado Aberto
SILVA , Mª Julia Paes de. Qual o tempo do cuidado? Edicoes Loyola, 2004, p. 49
REVISTA ÉPOCA: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT980656-1664,00.html
RIBEIRO, José Carlos Queirós Nunes, in MOURA, Vasco Graça (Org). 366 poemas que falam de amor. 2ª. Ed. Quetzal Editores: Lisboa 2004.
RÓNAI, Cora (Org). Caiu na Rede. Agir:
SOUZA, Geraldo Eustáquio: http://www.paracrescer.com.br/pasta_poemas/index_poem.htm
VIDIGAL, Betty. Textos apócrifos na internet: http://www.blassoc.com.br/bettyvidigaltextovm.htm
ZERO HORA: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=capa_online


Aíla Sampaio (para o caderno de cultura do Diário do Nordeste)