Vianney Mesquita**
A poesia me quer puro. (Antenor do
Nascimento Filho).
Fora de qualquer dúvida, o lançamento
de um livro jamais deixou de representar uma festa, como esta de que agora
cuido: o batismo da primeira obra e a iniciação literária do seu autor.
E Fortaleza, mais uma vez, anoiteceu
jubilosa, coroada de regozijo com essa dúplice iniciação – de Fernando Pereira
de Holanda e sua produção inaugural, a que concedeu o insinuante título de Renascer – latejos interiores – mais um
livro de boa poética, surdida do recôndito da alma romântica de pessoa simples,
mas profundamente aprazível no modo de compor seus versos.
Este volume, de lavra desse servidor
teiceirizado da Câmara Municipal de Fortaleza, por mim revisado, teve o
mecenato do Prof. Dr. Arnaldo Santos, acadêmico deste Silogeu, o qual delineou
escritor e produto, em solenidade ocorrida no interior da citada CMF, em
12.11.2008, há seis anos, portanto.
Custoso é acreditar (sem se ver) na
ideia de que, em um mundo árido, de tal modo falto de inspiração, quando, ex-vi das circunstâncias, as pessoas
tratam somente da própria sobrevivência, um homem como o senhor Fernando saia
do seu labor, da austeridade de sua ambiência de trabalho, a fim de versejar,
de cultivar a arte de consoar versos simples, contudo penetrantes, como os que
estão expressos neste volume.
O autor estreante amolda-se à ideia
refletida pelo literato lisbonense Antônio Feliciano de Castilho (Lisboa, 28.01.1800;
18.06.1875), para quem a poesia, na sua
acepção ampla e verdadeira, é a antevisão de muito longe, a ousadia denodada; é
cravar olhos no sol dos ideais sem trepidar e ver na espécie humana, tão
claramente como o corpo a pedir pão e roupa, um espírito que exige luz, um
coração que só de amores se alimenta. (DELLA NINA, A. Dicionário da Sabedoria, 1985 – v. III, p.241).
Fernando anteviu bem distante e,
ousadamente, compôs um conjunto de poemas como um espírito ávido por
esclarecimento, um coração que, na realidade, é nutrido pelo afeto ao
transcendente Deus, aos semelhantes, às criaturas não humanas, enfim, às boas
coisas da vida, passíveis de se retratar em poesia.
Conforme, ainda, exprime o médico,
professor e escritor portuense Júlio Dinis (Porto, 14.11.1839; 12.09.1871 – 32
anos), célebre compositor de As Pupilas
do Senhor Reitor, a poesia necessita de quem a produza e dos que a
entendam, no entanto, nem sempre os que a compreendem, tampouco os seus
produtores, sabem lê-la (IDEM IBIDEM).
Assim foi que Fernando Pereira de
Holanda, como que a confirmar o fecundo inventor de A Morgadinha dos Canaviais, compôs estâncias rimadas e as publicou
nesta seleta, com o adjutório de amigos e o aplauso da Câmara Municipal de
Fortaleza, franqueados sempre às ideias saudáveis, também no terreno fertílimo
das Artes, muito especialmente da obra escrita.
Certamente, Fernando – é o que os
leitores esperam – produzirá muitas e mais refinadas rimas, quando evoluir naturalmente
de sua condição de estreante e penetrar os meandros da engenhosidade artística
que somente a vivência, o trato diuturno e a idade – de conluio com a
inteligência – são habilitados a conceder.
Por fim, como já me referi a dois
escritores lusitanos, e para não propalarem por aí que me passei de armas e
bagagens para Portugal – evoco ao Sr. Fernando a noção de poeta, traduzida na
reflexão do brasileiro José Bento Renato Monteiro Lobato (Taubaté, 18.04.1882;
São Paulo, 04.07.1948), para quem [...] poeta
não é o malabarista engenhoso que acepilha sonetos, embora belos, senão a
criatura eleita, que ressoa às mais sutis vibrações ambientes, como se toda ela
– corpo e alma – fora uma harpa eólia de cordas vivas [...] Não é retórica a
poesia, nem eloquência. É dor. Dor estilizada, dor de amor, dor de saudades,
dor de esperanças, dor de ilusões murchas, dor do inexprimível! (OPUS CIT.).
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