quinta-feira, 11 de outubro de 2007

MESA REDONDA – DIÁLOGOS DO SILÊNCIO

UECE – 2003
Introdução

É com muita satisfação que retorno à Universidade Estadual, pois foi aqui que consolidei a minha paixão pela literatura, quando fazia a graduação em Letras e, posteriormente, um Curso de Especialização. Só sai para o Mestrado porque aqui não havia um em Literatura como eu desejava. Estou especialmente satisfeita por participar de uma mesa sobre Clarice Lispector, essa escritora que toca nas feridas e nos desconcertos da alma humana com uma agudeza singular, e sobre Graciliano Ramos, cuja obra inquietante traz o prescrutamento da verdade humana e a tematização do real. É interessante que, nos textos memorialistas, ele não traça limites entre biografia e ficção. No caso de "Infância", a obra que será enfocada aqui pelo prof. Rui, ele não consegue separar o depoimento pessoal da representação ficcional, exatamente porque é a vida que ele tenta compreender através da representação ficcional que é seu meio de perquirir a verdade.

Não posso, por demais oportuno, deixar de lembrar que Alberto Manguel, em sua História da Leitura nos reporta ao escritor alemão Franz Kafka e cita o trecho de uma carta que ele escreveu ao amigo Oskar Pollak, cujas palavras se adequam perfeitamente aos textos de Clarice e Graciliano, tão condizentes são com a experiência vivida pelo leitor que mergulha neles:

...Penso que devemos ler somente livros que nos mordam e piquem... Precisamos é de livros que nos atinjam como o pior dos infortúnios, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido banidos para a floresta, longe de qualquer presença humana, como um suicídio. Um livro tem de ser um machado para o mar gelado de dentro de nós.

É incrível como os livros de Clarice são exatamente assim: picam, mordem o leitor, porque assanham os seus ímpetos, arrancam as cascas de suas feridas. E é incrível como as obras de Graciliano nos atingem e arrancam a venda que inconscientemente colocamos nos nossos olhos.

E é exatamente sobre os efeitos dessa “picada”, dessa mordida que o texto nos dá, que os palestrantes de hoje falarão: A professora Vera, com a leitura de "Paixão segundo GH", de Clarice Lispector terá primeiramente a palavra durante 30 minutos e será seguida pelo Prof. Rui Vasconcelos, que falará do livro "Infância", de Graciliano Ramos e pela professora Daniele Passos com "Água viva", de Clarice. O debate só deverá ser feito no final, portanto, vão anotando as perguntas durante a fala de cada um deles. Obrigada.

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