segunda-feira, 7 de abril de 2014

Aquele que veste ideias com palavras








Totonho Laprovítera  representa bem o arquétipo do artista contemporâneo: é inquieto, múltiplo, visionário. Se ecletismo é palavra de ordem nesse tempo de depuração de fórmulas e dogmas, ele é exemplo de uma personalidade forte, cunhada em linhas claras, que se movem como um calidoscópio. Isso mesmo, Totonho enxerga a vida pela cor dos seus ideais; nada lhe é estanque, e nenhuma possibilidade de criação é descartada. Ele aprendeu cedo que a gente vem ao mundo pra ser feliz, não importa como, todos os desvios são válidos se forem do bem.

Sua arte, legado de sua sensibilidade e experiência, reflete seu prazer de estar no mundo para transformar traços em imagens, palavras em formas que se delineiam, ante nossos olhos, e se multiplicam em ondas sonoras. Arquiteto formado pela UFC, artista plástico com currículo internacional, Totonho é, sobretudo, esse sorriso que nos encanta, essa pessoa capaz de, com leveza, vestir ideias com palavras, transformar uma bola amarela no sol, como sugeriu Picasso. A poesia e a música, como as artes visuais, são o seu lugar no mundo; é o espaço em que ele se move para transfigurar a abstrata matéria do sensível em algo concreto: um projeto arquitetônico realizado, um quadro pintado, um poema escrito, uma música composta.
            É da argamassa do sonho que ele faz seu caminho. Pisa firme em qualquer chão, mas seu território é a arte. Capaz de transformar beirais em largos chapéus, ou de cobrir de sedas os substantivos, ele desencanta verbos e traça analogias inusitadas.  Costura o tecido do tempo com pincéis e telas, e se assume nordestino, com a sinceridade dos que são, antes de tudo, autênticos, donos de um estilo singular, mesmo sendo um ser plural. Suas múltiplas faces são desdobramentos de um talento que transborda, de um espírito inventivo que não cabe em si, precisa extravasar, como um rio em cheia.

            Essa merecida homenagem da Elite só acrescenta cores à sua caleidoscópica atuação no cenário artístico. É bem possível que ele, o arquiteto, trace passarelas preciosas; que o poeta encontre rimas no passo marcado da moça que pisa; que o pintor desenhe estampas nos olhares que cruzarem o seu; que o compositor enrede a tarde em  canções que acordarão a felicidade de ter amigos para partilhar a alegria de viver. 
        
Pinta o mundo, Totonho, com as cores dos teus sonhos, e nos envolve na música que canta o teu coração. Tece a tarde, costurando as horas, sem esquecer o sorriso moleque de menino levado que rouba as cores do arco-íris para vestir as palavras e transformá-las em poesia!

Aíla Sampaio - Escritora e professora da Universidade de Fortaleza


Apresentação do Totonho Laprovítera no Livro DIÁLOGOS, de Fernando França.



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